O ESTRANHO AMOR DA SENHORA CALS
Roberto Lima Cury*
O Estranho amor da senhora Cals, ficção do escritor Luiz Ademir Souza, é sem dúvida alguma uma grande sátira “curtida” à política brasileira. As personagens lembram sempre importantes nomes de políticos brasileiros (alguns, por desacerto nosso, ainda hoje têm evidência no cenário nacional), demonstrando a competência de um autor experiente e que sabe tratar com personagens intrigantes e problemáticos.
Luiz Ademir, por já ser um escritor de nome e experiente na criação de figuras humanas, sejam elas do interior e/ou da capital, consegue proporcionar ao leitor uma visão globalizada da futilidade política brasileira, sem medo algum de nada, nem propostas de apelação. Isso porque é muito independente e nunca precisou correr atrás de órgãos públicos nem tão pouco juntar-se a esses “bandos” de exploradores do povo. É de conhecimento público que Luiz Ademir não dá a menor ousadia a políticos nem a diretores de órgãos oficiais ligados à cultura nacional. Quando dirigiu a divulgação da TV Educativa foi interessante: não se adaptou exatamente por estes problemas, caiu fora e se mandou para a Europa.
Com uma bagagem de vida incrível, invejável, egresso do interior (onde começou sua brilhante carreira literária), Ademir se projetou com os romancec Maristela, prefaciado por Jorge Amado e lançado também em Inglês, Prostituta Virgem e Defuntos-Carnavais com introdução do Giuseppe Brazzi, também seu tradutor italiano, edições locais aqui no Brasil e no exterior.
Já que o Luiz Ademir escritor dispensa comentários porque é retado e reconhecido por seu talento, o bom mesmo é a gente falar do Ademir amigão, gente, tímido, assanhado quando quer e às vezes muito louco. O leitor ao observá-lo jamais dirá do que ele é capaz. Dinâmico como ninguém, alegre e triste ao mesmo tempo e por incrível que pareça solitário, no sentido de gostar de ficar só, com ele mesmo, avesso a suicídios (isso é demais!), sempre preocupado com os problemas sociais causadores de tudo, corajosíssimo, o que nos tempos de hoje é difícil, uma verdadeira fortaleza cultural e moral, embora ainda morando na Bahia, no Sítio Tenda do Tecô. Ainda me lembro dele quando o entrevistei para o Jornal do Brasil em 1975, e tratamos de política e cultura nacionais.
Ex-funcionário do banco, por quase uma década, ex-assessor de governos vários (“uma merda”), produtor cultural de arromba, incrível editor, articulista de A Tarde, por muitos anos, desvinculado de academias de letras e blá-blá-blá outros (e isso é bom frisar, embora tenha sido apresentado a Academia Brasileira de Letras por Jorge Amado já por três vezes), professor titular de Universidade pesquisador da área de arte, lecionando Comunicação de Massa, Metodologia do Ensino e do Desenho Artístico, sua formação Básica na UFBA.
É tanta coisa que Luiz Ademir tem feito que se torna difícil enumerar. Morou na Alemanha um período está com livro de poemas Molhado de Vidro e Corte, sendo traduzido pela escritora e professora do Goeth- Institut Ingrid Simson.
Assim é este cara simples e retado, curtidor e incrivelmente sério, quando quer ser. E só, muitas vezes, refletindo sua história e o seu tempo.
O conto O estranho amor da senhora Cals o coloca entre os maiores nomes da ficção do Brasil, escritor há quase duas décadas atrás, recompõe essa visão “sacana” que ainda hoje reflete os bastidores da política nacional.
Por isso mesmo vale a pena “engolir” este texto pela sua essência e grandiosidade literária peculiares do grande Luiz Ademir.
*Roberto Lima Cury
Escritor, Jornalista (RJ)
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