GENTE E VIDA
JORGE AMADO
Vim de ler os originais de “Maristela”, novo romance de Luiz Ademir
Souza, e vejo como acertei quando, ao apresentar alguns livros de jovens
baianos à Academia Brasileira de Letras, entre os quais um de sua autoria,
“Defuntos-Carnavais”, disse-lhe que o que é importante é continuar a trabalhar,
não lhe faltando vocação e talento para o exercício da literatura.
Há um evidente avanço do ficcionista de um para outro livro. Em “Maristela”
Luiz Ademir domina a matéria sobre a qual trabalha, já se expande numa maior afirmação dos personagens e dos
ambientes. Mantendo ainda o diálogo como principal eixo da construção
romanesca- e seu diálogo é natural e
vivo – Já a enriquece no entanto com uma mais ampla perspectiva , sobretudo
quando retrata o ambiente de Conceição do Almeida, a realidade do fumo e suas
cinsequências. As figuras em “Maristela” crescem e se afirmam fortemente.
Sente-se o romancista a dominar pouco a pouco seus meios de expressão.
Os Livros de Luiz Ademir Souza, o último devido à conotação social,
lembram-me de um romance que li em minha juventude: “Passageiros do 3ª “, de
Kurt Kleber, na qual toda narrativa era desenvolvida através do diálogo e com
sucesso. Não sei se a intenção consciente de Luiz Ademir é solucionar assim a
problemática da ficção, deixando de lado outros elementos da narrativa. Penso que seu caminho e sua afirmação
dependem de ele continuar a trabalhar e ampliar o território de seus evidentes
acertos.
Gostei de reencontrar Conceição do Almeida como chão de um livro, terra
de “Maristela” e da gente de Luiz Ademir. Lembro-me dos tempos distantes em que
parei na pequena cidade do recôncavo baiano enquanto escrevia “Jubiabá”. Eu era
então um jovem cheio de ambição literária e de ímpeto, assim como Luiz Ademir e
tantos jovens de hoje. Se fui adiante, eu o devo a ter tido disciplina e
humildade em meu trabalho. Só o próprio romancista pode realmente com trabalho
constante, dar medida justa e necessária ao ímpeto e à ambição que o levam a
querer criar gente e vida. "
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